Arquidiocese de Montes Claros realiza retiro de Formação para Diáconos Permanentes

Com o tema “O Diácono como Servidor nas e das Comunidades Eclesiais Missionárias” aconteceu no dia 10 de outubro de 2020, na Comunidade Esdras, um dia de formação e espiritualidade para os diáconos permanentes da Arquidiocese de Montes Claros. Participaram deste encontro dezoito diáconos permanentes, outros 16 já haviam feito o retiro no dia 26 de setembro conduzido pelo padre Gledson Eduardo de Miranda Assis.

            O retiro, que seguiu todos os protocolos de prevenção ao Covid-19, foi conduzido por Dom João Justino de Medeiros Silva, Arcebispo Metropolitano de Montes Claros, que trabalhou na perspectiva da oração, meditação e celebração, no horizonte daquilo que é recomendado pelo papa Francisco e à luz das orientações da Assembleia Arquidiocesana de Pastoral.

            Nesse dia, aprofundou-se a temática do anúncio da palavra, ou seja, o diácono como servidor da Palavra e também  o diaconato como Serviço aos Pobres e o Diácono como Guardião do Serviço.

A formação teve seu referencial nos textos do magistério do Papa Francisco sobre o diaconato; o que oportunizou ao arcebispo metropolitano, junto aos diáconos,  vivenciar a partilha e escuta, levando os temas abordados à vivência da igreja particular de Montes Claros.

Para o diácono João Batista, participante da formação, o retiro foi muito  proveitoso: “Como foi bom esse Retiro com a orientação do nosso Pastor, ouvindo sua voz (ESCUTA), ajuntando com ele, observando os caminhos apontados, examinando e comungando com ele as preocupações com o Redil e com as outras ovelhas desgarradas, esquecidas, desprotegidas, desfiguradas, feridas, machucadas, com sede e com fome!”

Dom João Justino ressaltou a importância deste encontro “testemunho que foi um dia muito fecundo, sobretudo porque os diáconos levaram muito a sério as propostas… A partilha possibilita tocar de forma muito experiencial a vida e a história de cada um dos diáconos permanentes” e se mostrou satisfeito com o formato do retiro: “Acredito que esta modalidade de encontro abre as perspectivas para outros encontros neste mesmo formato.”

A formação foi encerrada com a Santa Missa seguida de um jantar servido aos participantes.

Santidade, Perfeição ou Misericórdia?

A inspiração para o texto dessa semana vem com a pergunta de um jovem crismando, o Teófilo, mais uma vez, o amigo de Deus, como seu nome significa. Num encontro virtual, mas de forma bem realística, ele me questionou: – O que Deus quer de nós, diácono? Quer que sejamos santos ou que sejamos perfeitos?  Tem jeito isso, “véi”?!

Tem jeito sim Teófilo, e significa algo bem mais simples do que suspeitamos. A questão do nosso crismando é pertinente, sobretudo se nos voltarmos para a Palavra de Deus e tirarmos dela nossa fonte de inspiração. Por ela Deus nos admoesta: “Sede santos, porque eu sou santo”! (Levítico 11, 44). E essa admoestação foi confirmada pelo Apóstolo Pedro que assim se expressa: “‘Sede santos, porque Eu Sou santo!’ … Vós, no entanto, vos santificareis e sereis santos, pois Eu Sou Yahweh, o SENHOR vosso Deus” (1Pedro 1, 16), fazendo menção aos preceitos veterotestamentários, ou seja, do Antigo Testamento. Dessa forma, antigo e novo testamento nos apresentam o mesmo preceito: a santidade.

Mas interveio Teófilo, inquieto: – Mas no evangelho de Mateus está escrito – “Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito”!  (Mateus 5, 48), diácono. E foi logo compartilhando a tela, mostrando-nos o texto como se lê para que não tivéssemos dúvidas.  – E então, é para sermos santos ou perfeitos?   

Coloquei ainda mais lenha na fogueira quando, ao invés de responder como ele queria, fiz outra observação, mas indicando agora o evangelista Lucas, que em algumas traduções não admoesta nem à santidade e nem à perfeição, mas à misericórdia!! Lemos: “Lemos: Sede misericordiosos como vosso Pai é Misericordioso!” (Lucas 6, 36). Ainda mais perplexo Teófilo se expressou: – Ih, agora lascou!!!!! É para ser santo, perfeito ou misericordioso? Aí deu ruim diácono!!!

Depois que rimos um pouco da “saia justa” na qual Teófilo se encontrava, fiz uma provocação: E se não precisássemos escolher entre um dos preceitos? E se ao invés de ou santidade, ou perfeição, ou misericórdia, estivéssemos sendo admoestados a sermos santos, perfeitos e misericordiosos? E se o projeto de Deus levasse em conta as três realidades?  Talvez seja essa a postura mais adequada.

Para tanto, teremos de partir do menor e mais importante versículo bíblico. Menor em extensão, mas absolutamente talvez o mais importante por ser aquele que define o ser mesmo de Deus: sua santidade, sua perfeição, sua misericórdia! Eis o versículo: “Deus é amor”! (1 João 4, 8b).  E todo aquele que ama mostra que vem de Deus e está com ele, pois no versículo anterior ainda lemos que “o amor vem de Deus”.

Em seu amor Deus nos destinou para sermos santos, que etimologicamente sugere ser separado, consagrado, posto à parte, como que preservado, uma porção escolhida. A santidade que Deus espera de nós é não nos conformarmos (mente e coração) com as coisas deste mundo, seus esquemas injustos e sua maldade, mas agirmos como filhos da luz. Para isso “ele nos criou com bênção espirituais em Cristo e nos escolheu nele antes ad criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos”! (Efésios 1, 2-4). O amor, pois, nos destinou à santidade.

Esta condição de santidade nos coloca no mundo de forma diferenciada, capazes de romper com o ciclo da violência e do ódio pelo vínculo do amor. Somente pelo amor compreendemos que não se trata de sermos perfeitos no sentido de não possuirmos limitações e fraquezas, mas no sentido de vivermos a perfeita ação de amar, a Deus em primeiro lugar e por extensão ou consequência aos irmãos e irmãs. Trata-se, antes, de sermos perfeitos no amor: “No amor não há medo. Antes, o perfeito amor lança fora todo medo … e quem tem medo não é perfeito no amor”! (1 João 4, 18).

Quando compreendemos esta nossa missão de perfeição no amor, compreendemos igualmente que a única expressão realmente válida de amor é a misericórdia, que nos ensina a olhar-nos, olhar os outros e ao mundo com o coração de Deus revelado no coração sagrado do Filho que nos deu a máxima expressão de amor do alto da cruz: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem”! E antes disso, para que não tivéssemos dúvida alguma de que a misericórdia é a autêntica expressão do ser de Deus, nosso Pai, nos ensinou: “todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequenos, foi a mim que o fizestes”! (Mateus 25 40b). O que fizeram, perguntar-nos-íamos? Agiram com misericórdia.

Pois é meu caro Teófilo! Vês como não só é possível como é esta nossa missão. Estar neste mundo, mas com ele não se conformar; sermos perfeitos no amor, jogando fora todo medo; agindo com misericórdia, pois não podemos dizer que amamos a Deus, se desprezamos nossos irmãos. Deus, com seu Espírito, nos confirme sempre em seu amor!

Diácono Robson Adriano

robsonfil@gmail.com