Candidatos ao Diaconato Permanente de BH são instituídos a Leitores e Acólitos

No último domingo, dia 22/11/2020, na Catedral Cristo Rei, em Belo Horizonte, foram instituídos no Ministério de Leitores e Acólitos sete candidatos ao Diaconato Permanente da Arquidiocese de Belo Horizonte.

São eles: Fábio de Brito Goncalves, Gius Carlos Soares Rocha, Márcio Assunção de Paula, Marcos Daniel Machado, Normando Martins Leite Filho, Paulo de Tarso da Silva Reis e Rubens Pereira Lima.

A celebração foi presidida pelo Bispo auxiliar Dom Vicente.

A ordenação diaconal está prevista para o mês de fevereiro/2021.

A CRDE Leste 2 parabeniza e intercede pela vida destes vocacionados.

Estende tua mão ao pobre.

No último dia quinze, como já vem fazendo a alguns anos consecutivos, o Papa Francisco nos lembrou dos “anawins de Yhwh”, ou seja, dos pobres de Deus. E como o termo hebraico anawin, remeta-nos também “àqueles que se dobram”, ou seja, os humildes em espírito que colocam toda a sua confiança no Senhor, pobreza e humildade se conjugam na convocação de Francisco. Por um lado, a miséria daqueles que nos expõe suas necessidades mais prementes como chagas abertas por um sistema perverso; por outro, o convite a reconhecermos que diante de Deus, a bem da verdade, somos todos pobres, necessitados de conversão… pois muitos de nós estamos com a barriga cheia ou o espírito inflado pela autossuficiência. Uma convocação inquestionavelmente louvável e necessária, mas, no mínimo estranha e sintomática. Estranha, uma vez que somos seguidores dAquele que não tendo lugar para nascer, viveu a vida sem ter onde reclinar a cabeça, teve como pai um carpinteiro e não um banqueiro ou empresário, deixou como herança a si mesmo nas migalhas de um sagrado pão, dando ainda ordens para servirmos como ele próprio serviu e como se não bastasse morreu entre dois ladrões sentenciado como fracassado e impostor, como nos atestam os Evangelhos. Haveria mesmo necessidade de um dia assim convocado se compreendêssemos que todos os dias a fé assim nos convoca? Não cuidar dos pobres nunca foi e nem nunca poderá ser uma opção; ao menos não uma opção cristã! Trata-se de um imperativo: “dai-lhes vós mesmos de comer”! (Lucas 9, 13).

Confesso meus irmãos: nunca foi tão difícil falar dos pobres, ou falar por eles!!!! Muito rapidamente vozes uni troantes se levantam, dentro e fora da Igreja, para classificar a atenção e o cuidado para com os pobres de fascismo, comunismo, socialismo etc e tal, alardeando aos quatro cantos do mundo que o socorro aos pobres foi uma ideologia plantada no coração da Igreja para fazê-la perecer como uma ONG malsã! É necessário, continuam em seu furor, exorcizar toda teologia da libertação até ao cúmulo de negar a razão de fé de inúmeros de nossos pastores que, compreendendo a sagrada missão do pastoreio junto aos mais pobres e necessitados, replicaram do Evangelho nos exortando no Concílio: As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco em seu coração (GS 1)”.

Há alguns dias, participando de um tríduo em preparação para a ordenação diaconal de alguns irmãos, fiquei edificado por um gesto simples, mas extremamente significativo, e quase já esquecido na Igreja: após a oração final, o celebrante chamou à frente duas senhoras. Uma delas deduzi facilmente quem seria: carregava as vestes litúrgicas do acólito que seria ordenado. A humilde senhora era sua mãe. A outra, simples e humilde, trazia nas mãos uma pequena caixinha. Depois de abençoadas as vestes litúrgicas, o celebrante voltou-se para o acólito, dizendo-lhe que toda a comunidade, mas principalmente os pobres, lhe queriam ofertar um presente: abriu a caixinha e apresentou ao acólito um anel de Tucum. A “senhorinha”, depois da bênção, colocou-lhe no dedo o anel, profetizando um ministério na companhia dos mais empobrecidos e necessitados, e sem dizer absolutamente nada, dizia, com seu gesto, absolutamente tudo: não se esqueça dos pobres do Senhor! Ele veio para servir, não para ser servido!

Fiquei dez dos melhores anos de minha vida no processo formativo do Seminário de Mariana e sou extremamente grato por isso. Sou de uma geração em que homens de esmerada humanidade e dedicação ao Reino e profunda espiritualidade me ensinaram a contemplar Jesus nos pobres e vice e versa, sem medo ou contradições, sem ideologia e com+paixão, fazendo-me ver a incongruência de uma espiritualidade que priorizasse somente a fé, sem o engajamento nas mudanças estruturais injustas, ou priorizasse tão somente as realidades estruturais e materiais tendendo a transformar a Igreja numa ONG. Homens que amaram profundamente a Igreja por terem amado ainda mais profundamente a Cristo, seu fundador, que amou os pobres prometendo-lhes o Reino de Deus. Somente para citar alguns, homens como Pedro Casaldáliga, defensor dos indígenas e marginalizados, adotando como lema de sua ação pastoral: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar; homens como Dom Helder Câmara, que congregou nossos bispos em conferência, defendendo arduamente os direitos humanos; poeta dos pobres e da não-violência; homens como Dom Luciano que morreu fazendo um pedido: não se esqueçam de “meus” pobres! Tantos e tantos mais que marcaram minha vida com um testemunho autêntico de fé. Ensinaram-me que se “pobres sempre os teremos conosco” (como nos ensinou o Senhor em João 12, 8), a fortiori deverá ser permanente também o zelo pastoral para com estes pobres, nossos mestres.

O Papa Francisco, nessa incômoda insistência que nos descentraliza, e que não propõe absolutamente nada de novo do que o próprio Jesus nos propõe, recupere para nós a certeza de que uma espiritualidade autenticamente cristã não poderá jamais propor-se em substituição à fome dos milhares e milhares dos quatro terços da humanidade, nossos irmãos, que passam fome de pão e de fé. Prossigamos, e rezemos pelo nosso Francisco a fim de que Deus o preserve da mira dos que “odeiam a fé” e não aconteça, agora na cidade do Vaticano, o que outrora aconteceu no “fim do mundo” com um pastor que incorporando à sua fé e à sua missão o Concílio Vaticano II afirmava:  “a mais profunda revolução social é a reforma séria, sobrenatural, interior de um Cristão. A missão da Igreja é identificar-se com os pobres. Assim a Igreja encontra sua salvação”. São Oscar Romero, rogai por nós!!!

Diác. Rosbon Adriano

Quero a Misericórdia e não o Sacrifício!

Temos acompanhado nos últimos dias reações as mais diversas acerca do pronunciamento do Papa Francisco sobre certa postura cristã em relação aos direitos civis das pessoas homossexuais e homoafetivas. Reações de julgamentos apressados e distorcidos dentro e fora da Igreja. Desde uma mídia viciada e mal-intencionada (à serviço de uma visão reducionista como geralmente é a própria visão de boa parte das pessoas que fazem parte desse grupo e levantam essa bandeira), passando por leigos e leigas confusos que juraram afastar-se da Igreja por não se verem representados por um Papa assim ou até mesmo padres que, em homilias, vaticinaram a alto e bom tom ser o Papa um herege necessitado de conversão, causando revolta no fiéis presentes que, em parte, abandonaram a celebração revoltados com seus párocos.

Um Papa que, convidando à acolhida e à misericórdia antes que ao julgamento (como fez o próprio Jesus no caso da samaritana ou da adúltera prestes a ser apedrejada), é contestado quase que odiosamente e tratado com inclemência e intolerância, até mesmo entre aqueles e aquelas a quem ele pediu a bênção, antes mesmo de abençoar, no dia em que foi apresentado ao mundo como Papa Francisco. A palavra de Jesus de que no mundo haverei de encontrar aflições (João 16, 33) torna-se real e intensa para o para o Papa do fim do mundo que descobre com sofrimento que o mundo pode ser a sua própria casa, as ovelhas de seu próprio rebanho.

Mas creio que o Papa Francisco não se admira de tais reações, não se intimida ou fraqueja, pois tem sempre diante de si o fracasso e a loucura da cruz e a fidelidade de quem ele nos pediu que olhássemos mais em seu pontificado: nosso Senhor Jesus Cristo. Sabe que com o Mestre foi mesmo bem assim: “este homem acolhe os pecadores e come com eles”! (Lc 15, 2); ou, “se esse homem fosse profeta saberia que a mulher que está tocando nele é uma pecadora” (Lc 7, 39b), enquanto a pecadora lavava os pés de Jesus com as lágrimas, enxugando com o cabelo, beijando-os e lançando neles perfume. Ou ainda: “pode, por ventura, vir alguma coisa boa de Nazaré”?, perguntava-se Filipe, um dos escolhidos, questionando a identidade de Jesus. Não é o que ouvimos hoje: pode, por ventura, vir alguma coisa boa do “fim do mundo?” Nada fácil é compreender que desde a Antiga Aliança, firmada pela Lei, até a Nova Aliança, firmada pelo sangue de Cristo, tudo o que Deus quer é a misericórdia, em primeiro lugar, pois sem ela o sacrifício torna-se uma prática da boca para fora, não envolvendo o coração e, portanto, uma prática não compassiva. Por isso mesmo Jesus, retomando os preceitos da Antiga Lei (Oséias 6,6) nos incita: “ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores!” (Mateus 9, 13). Mas pecadores somos todos, nos confirma a Palavra (!João 1, 8). Mas nosso pecado pode ser ainda maior e à ele somarmos o sermos injustos… inclementes…impiedosos!

Vivemos tempos difíceis! Conciliar uma experiência religiosa cristã autêntica com a expressão contemporânea de uma autonomia baseada unicamente na referência a si mesmo como valor absoluto é uma tarefa complexa, exigente. Tudo e todos parecem operar na única ótica do EU: faço, quero, posso, vou… meu, para mim, comigo e por mim. A vida é minha, o corpo é meu, tenho o direito de ser eu!! Ouvir a voz de Deus mais que a própria voz, assumir o projeto de Deus mais que o próprio projeto, reconhecer-se pecador mais do que auto-justifcar-se torna-se cada vez mais sinônimo de perder a própria autonomia e abandonar as rédeas da própria vida. Ainda assim, é preciso fazer ressoar no fundo da própria convicção a confrontação necessária com a constatação evangélica da experiência do próprio Jesus: “Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua” (Lc 22, 42b). Depois verteu sangue em poros, tamanha era sua agonia, sua angústia por ter compreendido que crer e dar a vida pelos de Deus, sendo-lhe fiel até o último instante, era renunciar a si mesmo por um amor maior! Haverá ainda em nosso tempo amor maior que o EU? Teremos coragem de assumir nossas próprias limitações do que justificar nossas vontades? Lançaremos ao chão as pedras que carregamos nas mãos ou ousaremos insensatamente lança-la na direção da pecadora?

Uma situação real, no que tem de intenção, me fez pensar e acolher a mensagem do Papa Francisco que reflete, na verdade, as intenções do próprio Cristo em termos de uma acolhida misericordiosa: depois de viver quinze anos com uma companheira, num relacionamento estável, M.L perdeu a companheira num acidente automobilístico ficando ela mesma lesionada em uma de suas vértebras, impedida de movimentar-se em seus membros inferiores. A três anos as duas cuidavam de uma criança em processo de adoção. Ao tentar fazer uso dos bens que a companheira havia herdado de sua família e agora deixava, bens que ela mesa também ajudou a expandir, foi-lhe negado com a justificativa que não teria direito algum nos bens. Os familiares da companheira reivindicaram o direito aos bens sem levar em conta a situação atual de M. L. ou a intenção da que havia falecido. Pergunto: exigir algum direito para M. L, na ordem do direito, ou seja, de nossa civilidade, seria trair o Evangelho? Tornar-nos-íamos hereges? Parece que é a essa possibilidade de garantia de direitos que o Papa se referiu quando propôs que a sociedade precisa resguardar tais pessoas a fim de não ficarem expostas a injustiças e preconceitos descabidos. Não estaria aqui a possibilidade de expressarmos o quanto, na prática da civilidade, amar ao pecador, não obstante repudiando o seu pecado, é expressão de misericórdia? Estaríamos dispostos, ao menos a dialogar, ou estaremos obrigados em sã consciência a concluir com o Apóstolo: Para onde iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna”!  (João 6, 68).

Diácono Robson Adriano

Diácono permanente é eleito presidente do Conic-MG

O diácono permanente Amauri Dias de Moura, da Arquidiocese de Belo Horizonte-MG, foi eleito presidente do Regional Minas Gerais do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic-MG). A Assembleia-Geral Ordinária e Eletiva do Conic-MG ocorreu na tarde de sábado, 7 de novembro. Devido às restrições da pandemia, a reunião foi realizada por videoconferência.

No encontro, foram avaliados também os relatórios de atividades e o parecer do Conselho Fiscal referente à gestão 2018 a 2020. A nova diretoria exercerá o mandato até 2022.

“Servir a todos e todas com a força das nossas Igrejas, com o específico de nossas Igrejas, o específico de nossos grupos, somados, irmanados, acolhendo essa diversidade como dom e compromisso”, declarou o Diác. Amauri.

Nascido em 6 de outubro de 1976, em Belo Horizonte, o Diác. Amauri foi ordenado em 18 de novembro de 2017.

 

Conheça a nova diretoria do Conic-MG:

Presidente: Diác. Amauri Dias de Moura (Igreja Católica Apostólica Romana)

Vice-presidente: Rev. Bernardino Ovelar Arzamendia (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil)

1º secretário: Janett Alves Teixeira (Igreja Católica Apostólica Romana)

2º secretário: Pr.ª Mara Parlow (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil)

1º tesoureiro: Alex Sandro de Oliveira Sodré (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil)

2º tesoureiro: Rev. Pr. Jorge Eduardo Diniz (Igreja Presbiteriana Unida)

Conselho Fiscal:

Titulares:

Rev. Robert Delano de Souza (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil)

Pr.ª Aneli Schwarz (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil)

Rev. Antônio Marcos de Souza (Igreja Presbiteriana Unida)

Suplentes:

Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães (Igreja Católica Apostólica Romana)

Rev. Daflas Alexandre da Cruz (Igreja Presbiteriana Unida)

Maria de Fátima Cerqueira (Igreja Católica Apostólica Romana)

A Igreja particular de Mariana ordena 14 novos Diáconos Permanentes

Confirmando a diaconia na Igreja como verdadeira expressão da Sacramentalidade do serviço.

No último dia primeiro de novembro, do ano corrente, a Igreja particular de Mariana, sob o pastoreio de Dom Airton, celebrando todos os santos, realizou na Basílica do Sagrado Coração de Jesus, em Conselheiro Lafaiete, a celebração eucarística na qual foram ordenados 14 novos diáconos permanentes para servir a esta parte da Igreja situada na Primaz de Minas. Depois de um longo processo de preparação na Escola Diaconal São Lourenço, homens casados (exceto um deles que prestou o juramento celibatário para dedicar-se mais completamente ao serviço ministerial) assumiram o compromisso de expressar pela radicalidade do serviço o amor que tem a Deus e à causa do seu Reino.

Revigorada pelos ares conciliares, a Igreja redescobriu o valor ministerial da diaconia como expressão, por excelência, de uma Igreja toda ela ministerial. Constituída por homens e mulheres de todas as raças e línguas, batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a Igreja assumia o serviço como autêntica expressão de amor e instrumento privilegiado para a construção do Reino de Deus. Recuperava, assim, antiquíssima prática que encontrava em Jesus o seu fundamento. Ele próprio nos indicou explicitamente sua condição pelo ato mesmo de servir: “Eu vim para servir, não para ser servido!!” (Mateus 20, 28). A atitude serviçal, pois, não é uma atitude subjetiva de cada cristão, um mero ato da vontade, como se estivesse em questão servir ou não servir. Trata-se de um imperativo cristão; de um proceder em relação aos outros, sobretudo aos mais pobres e necessitados, os excluídos da sociedade, que constitui um dos bens espirituais mais sagrados que Cristo nos confiou: servir como expressão de amor!

Na icônica cena de lava pés (João 13, 1-17) Jesus, depois de tirar o manto, atou uma toalha à cintura (à modo de um avental pois depois deu-se a si mesmo como alimento as seus) lavou os pés de seus discípulos e depois de colocar o manto proclamou: “Vocês me chamam de Mestre e Senhor, e dizem bem, pois EU SOU! Portanto, se eu assim o fiz, façam vocês também o mesmo. Dei-vos um exemplo a fim de que, assim como eu faço, vocês também o façam”!  Detalhe: o relato do Evangelho não diz que o Senhor retirou da cintura sua toalha, seu avental. Há nesta não referência uma evangélica intencionalidade: neste instante, em nome do EU SOU, Jesus “sacramentalizou” o serviço como o sinal permanente da doação de si à edificação do seu Reino de justiça, paz e amor. E assinou posteriormente este testamento, não com as letras da Lei, mas com seu sangue na cruz, na entrega total da vida doada como máxima expressão de quem ama e é fiel ao Pai, amando e sendo fiel aos pobres e marginalizados. Dessa forma, todo cristão que, não renunciando a cruz, perfaz o caminho do discipulado pelo serviço, é sinal visível da promessa feita por Cristo de estar conosco todos os dias até o final dos tempos. Pelo serviço, tornamo-nos alimento de esperança a quem tem fome do Reino de Deus.

Parabéns aos novos diáconos da Igreja Particular de Mariana e a todos os diáconos ordenados no Brasil afora pela Igreja Católica. São Lourenço os ensine sempre amar a Jesus com todo ardor e a entregar sua vida e ministério a serviço do Reino. Maria Santíssima, a mãe do serviço, apresente sempre a seu filho Jesus suas intenções e as intenções de vossas famílias, pois como bem sabemos, é a família, para o Diácono Permanente casado, o primeiro campo de sua missão. 

Diácono Robson Adriano

Presidente da Comissão Arquidiocesana dos Diáconos.

Vida e morte: realidades da mesma existência

“Para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada.” Esse trecho, retirado do Prefácio dos Fiéis Defuntos I, pode ser visto em algumas lápides cristãs mundo afora. A relação vida-morte-vida é um dos fundamentos de nossa fé cristã. Para os seguidores de Jesus, não é possível separar esses eventos, e precisamos ser vigilantes para aprender as lições que elas têm a nos dar.

Ainda me inspirando na liturgia, destaco um episódio único da vida: o dia de nosso batismo. A celebração desse sacramento é carregada de símbolos riquíssimos que remetem a Cristo, no qual somos mergulhados, enxertados, configurados.

Conforme o costume em muitos lugares, no caso do batismo de crianças, o rito inicia-se com o bebê nos braços da mãe. Tal como fez Maria em relação a Jesus (Lc 2,22-32), a mulher apresenta a Deus e à comunidade o fruto de seu ventre, de seu do coração. Após consagrar o rebento ao Criador, no fim da celebração, quando a criança já está inserida no corpo de Cristo, ocorre a bênção solene. Reza-se pelo neófito, pelos pais, padrinhos, pelos outros presentes. Nessa hora, novamente a criança está no colo da mamãe. É como se Deus dissesse: “No ventre, no coração, você gerou esta preciosa criança e a consagrou a mim, agora eu a devolvo a você e lhe dou a missão de cuidar dela para mim”.

Existe uma bela relação do batismo com as exéquias (ritos fúnebres). Além da presença da água, com a qual o corpo e o túmulo são aspergidos, há a prece da “encomendação”, quando a família, os amigos e a comunidade entregam, devolvem a Deus a pessoa querida. Um emocionante, não raro difícil, ofertório, pelo qual colocamos nas mãos do Senhor tudo o que aquela pessoa representou em nossa história: as vitórias, as fraquezas, as alegrias, os assuntos interrompidos, as broncas, os frutos de sua missão nesta terra. E o Deus misericordioso acolhe, na vida plena, o filho ou a filha tão amada.

Os vivos e os mortos para o cristianismo

Para o cristianismo, o olhar sobre a vida e a morte costuma ser bem deferente. Quando oramos em favor de alguém que já se foi, não estamos nos referindo a mortos. Segundo nossa fé, trazemos ao coração pessoas vivas, irmãos e irmãs que estão em outra realidade (veja novamente a frase litúrgica a abrir este texto).

Há, por outro lado, muitos “mortos” perambulando por aí. À primeira vista, parecem até vivos e “bem de vida”. Estão de pé, conversam, comem e bebem, até compram e vendem. Entretanto, a todo instante, maquinam um modo de promover a violência, a injustiça, a discórdia; enfim, mais morte. Estar nas trevas é a morte.

Podemos também trazer dentro de nós experiências alternadas de morte e de vida. Quem nunca se deparou, já no fim do dia, com um arranhão ou um hematoma no corpo? Onde nos ferimos? Por que nem notamos nossas próprias feridas? Qual de nós presta atenção à própria respiração, sentindo o prazer de nutrir-se do sopro vital nos dado como graça? Onde estávamos em nossos instantes de morte e vida? Quantas vezes, pelo pecado, nós nos afastamos de Deus? Como o joio e o trigo, portamos a vida e a morte, ciscos e travas, sempre mais fáceis de apontar quando é no outro.

Não é demais recordar: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10b). Não interessa tanto ou quanto tempo estaremos por aqui, mas o como, mesmo nos arranhões de nossos dias.

Pendências

Na década de 1990, ajudei a produzir uma reportagem sobre a morte. Não me estranhem, mas confesso: foi um dos trabalhos mais marcantes de minha carreira profissional. Uma pena, mas não recordo bem os detalhes dessa matéria, mas ficou marcada para mim uma pergunta feita por um tanatólogo, profissional especializado no fenômeno vida-morte: se eu receber a notícia de que morrerei daqui a quinze minutos, como aproveitarei meu tempo restante?

Segundo o estudioso cujo nome se perdeu em minha memória após tantos anos, se uma pessoa tem o desejo de resolver várias pendências emotivas e práticas em intervalo tão curto, significa que ela vai morrer mal, porque viveu mal. Morre bem quem vive bem, conforme nos disse naquela ocasião. Como esquecer essa máxima? Quanto ensinamento a morte pode nos dar!?

A Sagrada Escritura, com destaque para os Evangelhos, sempre nos chama à vigilância. Devemos estar acordados e bem preparados para o encontro com o “noivo”, o “senhor da vinha”, o “patrão”, o “ladrão”, Aquele que chega sem avisar. Precisamos ter combustível suficiente para nossas lâmpadas, o óleo da experiência pessoal e intransferível.

Preocupação pastoral na pandemia

A elaboração do luto é outro aspecto da vida-morte-vida que não pode ser ignorado. Em um contexto industrial e urbano como o nosso, e mesmo em nossas comunidades de fé, há uma tendência em jogar para debaixo do tapete a carga da morte. Quanto crucifixo não foi trocado por uma imagem de Jesus já ressuscitado? Um modismo questionável não somente do ponto de vista artístico, litúrgico e catequético, mas que pode nos levar a ocultar outros crucificados e cruzes da vida, inclusive a implacável dor de uma perda.

Pelo olhar antropológico, precisamos, sim, de ritos fúnebres, de viver o luto. Nesses dias, é melhor o roxo ao dourado. Embora devamos testemunhar a vitória da vida sobre a morte, como manda nossa mais básica fé, necessitamos dessa pausa.

Como ministro ordenado e próximo à realidade eclesial de um querido povo, admito que estou apreensivo por muitas famílias não poderem manifestar o luto nestes difíceis tempos de pandemia. As pessoas falecidas em decorrência da covid-19 tiveram de ser sepultadas às pressas, sem os devidos ritos que cada cultura reserva a seus mortos. As despedidas, mesmo para quem partiu por outros motivos, são breves, superficiais, praticamente à beira do túmulo.

Teremos de buscar uma solução pastoral, ainda que seja preciso esperar um pouco. Visitas às famílias, escuta, dias de oração e homenagens, criação de memoriais, parceria com profissionais… Alguma coisa precisará ser feita em nossas comunidades. Ciclos precisarão ser encerrados e pensadas muitas feridas ainda latejantes. Como é difícil compreender o glorioso Domingo da Ressurreição sem a Sexta-Feira da Paixão!

Dedico este texto a meu sogro, o sr. Moacir Alberto de Oliveira, falecido em 25 de outubro último. Bendito seja Deus por sua vida!

Artigo publicado originalmente no blog da Província Brasil Norte da Congregação das Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo (SSpS): blog.ssps.org.br

Alessandro Faleiro Marques

Diácono permanente na Arquidiocese de Belo Horizonte, professor de Língua Portuguesa, editor de textos para as irmãs servas do Espírito Santo.