O Diaconato Católico e a dinâmica do serviço

A missão do Diácono é levar o Cristo Servo aos que mais precisam, exercitando deste modo as palavras de Jesus: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Marcos 10,45a).

Na Igreja Católica, o sacramento da ordem tem como função perpetuar a missão de Cristo confiada aos Apóstolos através dos ministros ordenados. Aqueles que recebem o sacramento da ordem “configuram-se a Cristo em virtude de uma graça especial do Espírito Santo, com o objetivo de serem instrumentos de Cristo ao serviço da sua Igreja. Pela ordenação, ficam habilitados a agir como representantes de Cristo, Cabeça da Igreja, na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei” (Catecismo da Igreja Católica, §1581). A ordem é constituída de três graus, cada um deles com um múnus, ou seja, um ofício singular e característico: Diaconato, Presbiterato e Episcopado. Os membros de cada um dos graus, cada qual a seu modo e de acordo com seu ministério, se assemelham a Cristo. 

O diaconato constitui-se como o primeiro grau do sacramento da ordem. O nome “diácono” deriva da palavra grega διάκονος (diakonos), cujo significado é “servo”, “servidor” ou “servente”. Isso revela que o ministério diaconal está intimamente ligado ao serviço. Os diáconos são ordenados para servir à Igreja e ao povo de Deus, configurando-se desta maneira ao Cristo Servo, que “não veio para ser servido, mas para servir” (cf. Marcos 10,45a). Logo, o múnus diaconal é o serviço: “Aos diáconos são-lhes impostas as mãos, não para o sacerdócio, mas para o ministério sagrado. Fortalecidos com a graça sacramental, servem o povo de Deus, em união com o Bispo e o seu presbitério, na diaconia da liturgia, da palavra e da caridade” (Lumen Gentium, n. 29- grifo nosso). 

A dinâmica do serviço diaconal também se expressa nas vestes litúrgicas próprias do diácono. A dalmática, vestimenta característica dos diáconos, é um símbolo de serviço e caridade. As mangas largas da dalmática lembram que o diácono deve estar sempre pronto para servir os outros, representando as mãos estendidas para ajudar. A estola diaconal também reflete essa dinâmica de serviço. A estola é um símbolo da autoridade do ministro ordenado e, no caso dos diáconos, expressa seu caráter servil. A estola diaconal é colocada sobre o ombro esquerdo e presa sob o braço direito, lembrando a função prática e de serviço do diácono.

No Antigo Testamento, os levitas, descendentes de Levi, filho do patriarca Jacó, prefiguravam o diaconato cristão. Eles foram escolhidos por Deus, por intermédio de Moisés, para auxiliarem o Sumo Sacerdote Aarão e os demais sacerdotes israelitas, seus descendentes, no exercício litúrgico e no cuidado com as coisas sagradas presentes no tabernáculo, bem como nos rituais sacrificiais.

O Senhor disse a Moisés: “Manda vir a tribo de Levi e apresenta-a ao sacerdote Aarão para servi-lo. Os levitas se encarregarão de tudo o que foi confiado aos seus cuidados e aos de toda a assembleia, diante da tenda de reunião: e farão assim o serviço do tabernáculo. Zelarão por todos os utensílios da tenda de reunião e do que foi confiado aos cuidados dos israelitas; e farão assim o serviço do tabernáculo (Números 3,5-8). 

Diferente dos demais israelitas, a Tribo de Levi não possuía terras em Canaã, pois o próprio Senhor era a sua herança (cf. Deuteronômio 18,1). O serviço constante a Deus permitia que os levitas tivessem um contato contínuo com o Deus de Israel, algo mais valioso e precioso que qualquer propriedade terrena. Assim, percebemos que o serviço a Deus não é um peso, mas uma dádiva, uma herança que Ele destinava aos levitas na antiga aliança e agora reserva aos diáconos, os homens do serviço.

No Novo Testamento, percebemos a continuidade desse ministério de serviço, não mais com os levitas, mas com os diáconos. Em Atos 6,1-7, vemos que com o crescimento dos cristãos, surgiu na Igreja nascente a necessidade de assistência às viúvas, a distribuição de alimentos aos pobres e outras necessidades da Igreja. Contudo, os apóstolos precisavam anunciar o evangelho e não conseguiam suprir essas novas demandas. Assim, os apóstolos chegaram à conclusão de que era necessário que sete homens repletos do Espírito Santo fossem escolhidos para tal função:

Não está certo que deixemos a pregação da palavra de Deus para servirmos as mesas. Irmãos, é melhor que escolham entre vocês sete homens de boa fama, repletos do Espírito Santo e de sabedoria e nós o encarregaremos desta tarefa. Desse modo, nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao serviço da palavra (Atos 6, 2b-3). 

Assim, sete homens foram escolhidos e apresentados aos apóstolos, que lhes impuseram as mãos para o serviço diaconal. Dessa forma, começou o ministério diaconal na Igreja. Conforme atestado nas Escrituras Sagradas, este ministério era ativo e profundamente marcado pela manifestação do Espírito Santo. O apóstolo São Paulo saudou os diáconos juntamente com os bispos na carta aos Filipenses (cf. Filipenses 1,1), e o diácono Filipe foi usado profundamente pelo Espírito Santo para pregar em Samaria (cf. Atos 8,9-25) e para batizar o eunuco etíope (cf. Atos 8,26-40).

O diaconato cristão nasce intimamente conectado ao serviço à Igreja de Deus, e essa missão continua até os dias de hoje. Os diáconos são homens chamados ao exercício do serviço cristão, e o grande chamado de cada diácono é levar o Cristo Servo aos que mais precisam, não apenas em suas paróquias e comunidades, mas em todos os lugares onde haja necessidade como presídios, hospitais, cemitérios etc. O Cristo Servo deseja lavar os pés dos mais necessitados, limpando suas impurezas e dando-lhes dignidade e nova vida, e deseja fazer isso por meio dos diáconos. A herança dos diáconos é o serviço contínuo a Deus na liturgia, aos pobres e na pregação da palavra de Deus. 

O bom exercício desse ministério é acompanhado de uma grande promessa do Senhor: “Aqueles que exercem bem o diaconato conquistam para si mesmos posto de honra, bem como muita intrepidez fundada na fé em Cristo Jesus.” (1 Timóteo 3,13). O serviço a Cristo não nos promete bens terrenos, mas bens celestiais como honra e intrepidez em Cristo Jesus. Honra é um posto de respeito, dignidade e integridade. Assim como os homens escolhidos para serem ordenados pelos apóstolos deviam ter boa fama, ser repletos do Espírito e dotados de Sabedoria, também os diáconos devem ser homens honrados e dotados de respeito pelas coisas de Deus, inclusive para seu chamado diaconal, para que haja um melhor exercício da sua diaconia. Já a intrepidez é coragem ou bravura. O diácono que bem exerce seu ministério deve ser corajoso em levar a presença do Cristo Servo onde mais for preciso, até mesmo em lugares desafiadores onde ninguém, a não ser Deus, quer ir por meio de seu diácono: “Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de poder” (2 Timóteo 1,7). Honra e intrepidez são as heranças prometidas aos que exercitarem dignamente o diaconato, por isso não devemos desanimar, porque Deus nos dá as ferramentas necessárias para cumprirmos nossa missão junto a Igreja e ao povo de Deus.

Peçamos a Nossa Senhora que auxilie todos os diáconos em seu ministério diaconal de serviço. Maria, que diante do anúncio feito pelo Anjo Gabriel que ela seria mãe do Salvador se declarou “serva do Senhor” (Lucas 1,38) e exerceu esse serviço por meio da visita e auxílio a sua prima Santa Isabel nos dias de sua gestação, sabe bem a importância do serviço a Cristo através dos irmãos e a forma como o serviço pode ser um meio pelo qual as pessoas recebem o toque do Espírito Santo. Que, a seu exemplo, nós diáconos possamos sempre renovar nossas promessas de ordenação, onde nos colocamos a serviço da Igreja e do povo de Deus, e recitar com fé, força e convicção: “Eis aqui o servo do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, para que a dinâmica do serviço se concretize em nossas vidas todos os dias. 

Diácono Jorge Luís Lopes dos Santos (Tuite).

Arquidiocese de Juiz de Fora. 

Referências 

VATICANO II. Constituição dogmática “Lumen Gentium” (21 nov. 1964). In: Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Paulus, 2001.

JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Edições Loyola, Paulus, 1999.

BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.